30 setembro 2016

Chegou a minha vez de ter orgulho - Por Andressa Leal



Olhei para o celular pensando que era você, por muito tempo eu pensei que a gente poderia dar certo, quis deixar de lado o meu orgulho, ou talvez o medo, aquele bendito medo que me impedia de te procurar. Quis pegar na sua mão quando te vi partir e dizer:

- Relaxa, vamos fazer dar certo, sei que conseguimos.

Só que não fiz, meu orgulho me impediu de fazer, tinha me magoado demais, feito demais para que tudo entre a gente desse certo e resolvi que desta vez eu não daria nenhum passo, não falaria uma palavra. Aguentei em silêncio você fazer a mala, pegar tudo seu que estava na minha casa, até uma pasta de dente você levava, fecho os olhos e me lembro das suas palavras:

- Não vou deixar um palito que te faça lembrar-se de mim.

E não deixou, palito, perfume, xampu, nada, absolutamente nada que é seu ficou aqui na minha casa e na minha vida. Desde o começo da nossa relação eu me questionava até quando você seria o orgulhoso de nós, até que momento eu aguentaria, ter que correr atrás, silenciar e algumas vezes me anular.

Quatro anos, foi exatamente o tempo que eu aguentei, entre idas e vindas, coração magoado, palavras duras e várias promessas de eu não quero mais te ver e nunca mais vou te procurar, eu sempre procurava (nunca tive vergonha na cara), sempre ligava, ia à sua casa, eu sempre lutei por nós, até o fim.

E o fim chegou e dessa vez eu não tentei evitar, não segurei e nem comecei tirar suas roupas da mala como eu fazia todas as vezes que você começava arrumar, desta vez eu estava decidida, não iria ceder correr atrás, chorar e lutar pela gente, tinha usado todas as minhas forças durante esses quatro anos, dessa vez eu nada fiz.

Permaneci na cozinha fazendo minhas coisas e permiti que cada lágrima caísse dos meus olhos, com a intensidade que elas desejassem, não as impedi desta vez, elas iriam cair uma a uma, até não cair mais, consigo ouvir o barulho das gavetas batendo e sei que dessa vez não tem mais volta, o amor acabou, se esgotou, chegou no limite.

Quando te vi sair do quarto com a mala na mão, juro que pensei em correr, te pedir para ficar, falar para você sentar no sofá, que iria cozinhar para a gente e te dar aquele vinho que você adorava, porém eu não fiz, não dei nenhum passo, continuei encostada na pia, ouvindo minha música e chorando, você foi até a porta, olhou para trás e disse:

- Não me procure demais, dessa vez acabou, não quero ter que ficar me explicando.

Eu engoli a seco, tinha o meu orgulho, respirei e respondi:

- Não procurarei, não da para remendar aquilo que já está muito rasgado.
- Foi bom enquanto durou.
- Sim, porém agora foi bom que acabou.
- Se cuida
- Deixe minha chave.

Essa foi a nossa última conversa e nossa última troca de olhares, quando a porta bateu, me joguei no chão e deixei todas as lagrimas caírem, pensei em descer as escadas correndo e ir atrás de você, porém não fiz. Escuto o toque do meu celular e corro, tenho a certeza que dessa vez você deu o braço a torcer, ao pegar meu celular me decepciono, não era você. 

Era simplesmente uma mensagem, informando a previsão do tempo, não precisava de previsão, dentro daquele apartamento estava frio do mesmo jeito que o meu coração.

Andressa Leal 


26 setembro 2016

A loucura do tudo e do nada


Talvez eu seja mesmo uma louca insatisfeita, mas a verdade é que eu não sei deixar passar essas vontades que vem do nada.Já passei da fase de me importar com a opinião alheia, então eu faço o que quero. Eu ando querendo tudo – e um pouco mais. O mundo está se abrindo para mim e meu instinto se vê na necessidade de me jogar e viver todas as oportunidades que aparecem no meu caminho. Eu canto, danço e sorrio e vou querendo tudo para mim. Já vivi, ganhei e perdi demais. E continuo querendo somar histórias, beijos, cantadas, músicas e abraços. Eu quero apertar o laço com gente que me sorri no caminho.


Muitos me enxergam como uma insana egoísta, mas, na realidade, cansei de me doar muito para o nada e esquecer que o tudo também pertence a mim. As meias palavras engasgadas, eu assopro para o vento e deixo que ele se encarregue de fazer o certo para o demais, pois, pra mim, eu sei o que satisfaz nas reviravoltas que o meu caminho dá. Então, hoje eu quero tudo, mas às vezes não quero nada. Nada de vazios, aflições e gente sem sorrisos. Quero tudo que me dá paz e me faz feliz. Quero amor, paz e gente que me diz que coisas boas estão por vir, que tudo só depende de mim. Daquilo que luto, mereço e de todos os bons passos que ainda desconheço.



Talvez eu seja mesmo uma louca insatisfeita. Hoje eu quero tudo, mas às vezes não quero nada.  Eu quero tudo que venha para somar. Quero nada que me faça desviar: do sonho, dos risos, da felicidade. O mundo me pertence. Eu  finco os meus pés aonde existe amor — e fico.


Joyce Xavier e Maria Fernada Probst

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25 setembro 2016

Ela é linda! - Por Rachel Carvalho



Ela é linda, por dentro, por fora, pelo avesso. Linda no sentido real da palavra. L-I-N-D-A. Mas vai te confundir, preciso avisar. Qual o seu signo? Ela é o zodíaco inteiro. Ela não é de se desvendar.  Lua e ascendente em impulsividade, ela não passa vontade, mas assume as responsabilidades do que faz. Não nega seus atos, paga o preço, sem hesitar. Ela se magoa com tudo. Ela perdoa mais rápido ainda. Ela é tão linda! Não tem problemas em pedir desculpas. Mas tem orgulho, não deixa ninguém abusar, lhe pisar. Ela é forte, mas vive de joelho ralado. Ela cai, ela chora, ela desaba, mas quando se levanta, desfila. Ela é um achado.
Ela é paciente, já esperou tanto na vida, mas não segura a língua nos dentes, não leva desaforo pra casa. E se ela silencia, cuidado! É a tua pior sentença. Ela vai e volta quando quer. Ela detesta controle, mas se apega fácil. E se desapega também. Ela tem um sorriso de te deixar no chão. Consegue o que quer com ele, amolece qualquer coração. Ela é doce e ácida, não amarga, é bom diferenciar. Ela é coração mole, mas não dá moleza pra ninguém. Não suporta injustiça, deslealdade, mentira. Ela vive de mão estendida, mas não vacila que ela retira.
Ela é gratidão, ela é prece, mas luta com todas as armas. Tudo que tem é porque conquistou, porque merece.  Ela não para. Mas leva a vida sem pressa. Ela é fé e ação. O que não precisa esperar, ela não espera. E se precisa da segunda milha, não foge, ela dá plantão. Não é fácil entendê-la, mas é fácil de amar. Ela tem uma coragem absurda, tem medo de pouca coisa na vida, mas se apavora com bobagens. Ela é linda, ela é linda! Abrace-a, quando pedir (às vezes ela vai fazer isso sem palavras). Afaste-se, quando ela precisar. Intensa demais, às vezes ela só quer sumir, se calar, pra depois voltar.
Ela é Sandy e Legião, Pitty e Clarice Falcão, Tiago Iorc e Engenheiros do Hawaii. Brisa e furacão, praia e campo, depende com quem, e quando. Ela é o que decidir. Quer afago, presença, mas também precisa de solidão. Ela não quer ser redação, pra manter coerência nem coesão. Não liga em fazer sentido. Ela é linda! Linda mas instigante. O que é que essa mulher tem? Ou será menina? Ela é o que lhe convém. Ela é forte, ela é frágil. Ela é louca, ela é prudente. Ela é anjo, demônio, ela é vidente. Ela é reza, é um palavrão. Oração. Quer ser amada, protegida, mas não coagida, ela não é obrigada. A nada. Ela não está nem aí pra quem só quer brincar, curtir, mas vai dá a vida por ti, se souber retribuir.
Teimosa e atrevida, ela se arrepende mesmo é do que não faz. Não tem medo de se arriscar. De se entregar. Mas não permanece onde não cabe mais. Ela faz o que dá na telha. Inclusive, ela vai te destelhar. Sutilmente, vorazmente. É como ela melhor achar. Ela adora cafuné, fazer e receber, mas não suporta ninguém no pé. Ela é linda! Você vai repetir isso a cada vez que olhá-la. Mas cuidado, rapaz! Ela pode ser teu caos. Se tem medo de bagunça, não se aproxime demais.
Se tem coragem pra entrega, ela vai todos os dias roubar e devolver tua paz. E você sorrindo, contente, vai entender como ela vale a pena, agradecer por tê-la e pensar: não preciso de nada mais.

Rachel Carvalho 



23 setembro 2016

Eu tenho depressão


E assumir a doença, não é fácil. É beber a vergonha como café quente pela goela abaixo, é se sentir oprimida com os olhares, é ter muita força de vontade para assumir o que na verdade, nos faz querer sumir.

Não posso escrever sobre a depressão do mundo, mas posso detalhar a minha, que me mata constantemente pelas oscilações que vive. Pela roda gigante emocional que gira sem parar e quando pára, é uma surpresa. Pode ser aquele dia de luz ou até, aquele dia que a sua cama é a companhia que mais te traz conforto. 

Tem gente que já disse, que a minha depressão era frescura. Era coisa de "mulher mimada". Já disseram, que era uma forma de chamar atenção e já ouvi dizer também, que era coisa de "maluco", que eu era louca e precisava me internar. E no fundo disso tudo, eu percebi que ninguém conhece mais a loucura, além daquele que sente uma dor insuportável todos os dias e nem sabe o motivo dela. 

Eu cometi um grande erro, eu rejeitei o tratamento, mas assumi a doença. Acho-me corajosa com isso, porque é uma luta diária comigo mesma. É uma batalha que só cabe a mim vencer e um cansaço que dá vontade de morrer. Não sou forte todos os dias, só uso um escudo para me proteger e tenho que assumir: a cada dia que passa, ele pesa mais. 

E com isso, vou vivendo no sarcasmo, aceitando quem eu sou, ironizando as minhas derrotas e debochando dos meus defeitos. Assim vou vivendo a minha vida, abraçando quem me ama e até sendo injusta, por opiniões diferentes ou até mesmo, com essa minha mania de querer abraçar o mundo, enquanto não consigo controlar os meus problemas emocionais. 

Tenho dias que eu mesma não aguento. Fico intolerante e impaciente. Fecho a porta do meu quarto e fico olhando para o teto. Choro também. E rezo para que a dor passe, para que eu consiga respirar aliviada e curar as feridas que existem em mim. E também, saber lidar com as pessoas más que me cercam. Mesmo querendo morrer em todas as minhas crises, eu tentei o suicídio somente uma vez. 

Mesmo com todas as dores, eu continuo caminhando sim, com os meus pés feridos e às vezes, com uma agonia insuportável no peito. E continuo acreditando nas pessoas, mesmo com as cicatrizes que às vezes, quero reviver. Sobrevivo com a minha ingenuidade de menina, fazendo com que as pessoas se aproveitem disso. Choro por não ser entendida. Sofro por não saber entender. 

Uma coisa que me alivia (e muito) é pensar positivo. É reconstruir sonhos, é ter gente de bom por perto, é conviver com aqueles que não desistem de você e principalmente, é saber que você não pode desistir de você mesma. Isso é primordial para sobreviver nesse mundo estranho.


E uma dica muito importante: não faça como eu, procure um tratamento enquanto é tempo. Antes que o fundo do poço te pegue de jeito e você, não consiga um jeito de sair dele. A dor é intensa e a luta também.


Joyce Xavier 



Volta logo - Por Giselle Ferreira



O sol já tomava conta do quarto, quando sentiu que o lado esquerdo da cama estava vazio. Lembrava de um beijo, mas ainda não sabia se era uma lembrança de fato, ou apenas resquício de sonho bonito. A dúvida foi tirada quando ouviu a voz doce que vinha da ponta da cama. Não era sonho.

— Bom dia meu amor, dormiu bem?
— Uhum — disse, com os olhos fechados e a voz ainda carregada de sonhos.
— Vou tomar um banho, você faz o café?
— Hm... Já vou. — ainda sem saber se já acordara realmente.

Da cama pôde ouvir o som da água caindo e um cantarolar leve, sorridente. O dia vai ser bom. É... vai. — pensou. 

Levantou, lavou o rosto, deu bom dia para o espelho, abriu a porta do box e deixou um beijo molhado no chuveiro. Foi até a cozinha, ferveu a água e preparou o café com a medida de sempre. Duas colheres de sopa de café, 500ml de água, três colheres de açúcar e amor a gosto. Pronto! — abriu mais um sorriso e se aproximou pra sentir o cheiro de bom dia fresco.

— Amor, o café tá pronto. Vai demorar?
— Não, jajá eu chego aí. Vou me trocar.

Sentou no sofá e ficou ali por alguns minutos, observando a rotina de todos os dias. Cadê minha calça?... Deixa, já achei. — já conhecia todas as falas e as repetia, quase que de forma sincronizada, ainda que em silêncio. E sorria. Viu onde eu deixei meus... Xá pra lá, já achei também. — desconfiava que sempre sabia onde tudo estava, mas perguntava só pelo prazer do cuidado. E da preguiça de procurar, claro.

Sabia bem que nada grandioso acontecia naquela manhã, mas sorria pelo prazer de observar a vida que, aos trancos e barrancos, construíram. O café era o mesmo, a roupa era a de sempre, nenhuma data especial marcada no calendário, nenhum aniversário ou acontecimento importante estava por vir. Mas sorriam.

Dali do sofá, admirava o ir e vir apressado, atrasado. Ainda que a manhã começasse agitada, era calmaria que se espalhava por dentro. Mais uma vez a certeza tomou conta dos pensamentos e a felicidade estampada em seu rosto transparecia, ainda que não pudesse ser vista por qualquer pessoa que lhe encontrasse por aí.

— Por que você tá sorrindo assim? — um flagra.
— Não sei do que você tá falando. Minha boca tá fechada.
— Não precisa mexer a boca pra eu saber que você sorri. São seus olhos que sempre te entregam, lembra?

Era verdade. Por mais que tentasse disfarçar, seus olhos sempre lhe entregaram. Quando tristes, choram sem derramar lágrimas e quando felizes, sabem sorrir sem que o rosto mude. Bastava uma piscada lenta para que entregassem seus pensamentos apaixonados. E naquela manhã não foi nada diferente.

Após o café e uma boa dose de conversas sobre tudo — sem que percebessem, criaram esse hábito —, ganhou um beijo na testa, seguido de um abraço apertado e um jajá eu tô de volta. Depois da testa, lhe beijou os lábios como quem deseja que as horas passem logo e o "jajá" seja mais breve do que realmente é.

— Não queria que você tivesse que ir.
— Nem eu.
— Promete que volta logo?
— Prometo.

Ficou observando os passos apressados nos corredor, até que eles estivessem fora do seu alcance. Fechou a porta do apartamento, serviu mais uma xícara de café, abriu a cortina e voltou ao sofá. Sorriu, mais uma vez, sem abrir a boca.

— O dia vai ser bom. É... vai.


Giselle Ferreira

21 setembro 2016

Depende de você - Por Marcely Pieroni




O relógio já marca quatro e quinze. Eu sei que dali há sessenta minutos vou ter de enfrentar o meu dia, mas estou sem forças e sem sono. A insônia hoje tem nome, peso e ocupa espaço. Como embalar o sono tranquilo se os pensamentos estão todos confusos e desordeiros? Respiro fundo e fecho os olhos.

As coisas eram mais fáceis quando eu cedia sem pensar demais. Quando eu só concordava em seguir a correnteza. Hoje eu busco prescrições sobre os botes salva vidas e se há a possibilidade de inventar um atalho caso algo dê errado. Não confio como antes. Não acredito como antes e não me culpo. A vida tem dessas. A gente se desencontra aqui e logo cria uma muralha invisível que impede o novo de chegar e isso é depreciativo.

Você abre mão da própria felicidade sem se dar contas. É como viver embutida numa história faz de conta que só ganha forças dentro de você para acontecer. Eu preciso dar o primeiro passo e dormir não seria má ideia. O corpo está cansado. A vida não perdoa e a rotina tem engolido o que me sobra de paz. E agora para todo canto que olho só vejo lembranças vivas dos bons momentos que passei emaranhada no seu peito arranhando um sorriso ou um pretexto para não me levantar. A insônia veio lembrar que tudo que fica mal resolvido não se dissolve no tempo.

Ao contrário, cai sobre a cabeça quando a gente menos espera. Eu fico aqui repetindo que tá tudo bem e que logo as coisas se acertam de novo e nada se concretiza. Eu estou destruída por dentro. Fragilizada. Estou acuada entre o sentir e o ter razão. Saber que fiz o meu melhor e que apesar de tudo ainda me sinto atada a ponto de achar que não foi o suficiente. Mania tola de acreditarmos que o outro é sempre o melhor.

Às vezes essa manobra toda foi só para lembrar que ele não cabe, que não preenche e é raso demais para as verdades que quer compartilhar. E isso não é desdenhar. Ao contrário, é dar o direito dele se caber onde se sinta confortável e experimentar fazer o mesmo consigo. Saber que você ainda é mais forte do que já foi um dia e que essa fase cinza é só mais um temporal. Eu sei que não é fácil. O dia logo vai chegar e você vai vestir o sorriso de canto e vai sair sem rumo. Mesmo chorando boca pra dentro para encontrar forças de seguir. Você é assim. Não esquece. A insônia vem com o nome e a cura depende de você. 

Marcely Pieroni 

20 setembro 2016

A noite de uma bêbada depressiva



Saio para beber, como uma noite normal, como se no dia seguinte não houvesse trabalho e eu pudesse acordar meio-dia com a ressaca - também - do cigarro. Saio do trabalho e recebo inúmeros convites, na carteira tem uns trocados (aqueles trocados que você não pode gastar, o seu kit de sobrevivência do mês) e o cartão de crédito quase chegando no seu limite. Rejeito várias ligações, mas sempre tem aquela que é irresistível, sempre tem alguém que você nunca consegue dizer não, sempre tem alguém que pode fazer com que você mude os seus planos. Não adianta negar, sempre tem alguém.

- Cátia da cachaça, vamos beber hoje? – Pâmela me liga, como se eu aguentasse trabalhar de ressaca.

- Não posso, amanhã acordo cedo e a gerente já está no meu pé! – respondo com uma revolta e aparentemente, com abstinência de algo que eu finjo não saber o que é.

- Daniel estará no barzinho hoje... – sem deixar ela terminar de falar, eu desligo o telefone não querendo saber de mais nada. Nem dele.

 Desço do ônibus, como sempre desajeitada, deixo meu único cigarro cair no chão e por crenças não pego, coloco meus fones de ouvido e caminho até o bar mais próximo para comprar outro maço. Chego na porta, vejo Pâmela e alguns amigos, como sempre tento me esconder. Meu disfarce de responsabilidade atrás do garçom não funciona, os bêbados reconhecem um bêbado e em segundos escuto um suave grito com o meu nome. Pronto! Todos os amigos estão reunidos em uma única mesa. Um aceno de longe não é o suficiente, eles fazem movimentos com as mãos para que você chegue mais perto. É aí que mora o perigo!

- Cátia, venhaaaaaa! – Pâmela já grita me puxando até a mesa. Sem que ela perceba, eu olho para os lados. Para todos os lados e não vejo Daniel.

- Cadê o Daniel? – Sussurro em seu ouvido antes de chegar até a mesa, para que ninguém escute.

Ela me responde com o olhar e o meu olhar, sem querer olhar, mas já olhando com o olhar de matar, o vê com outra. Uma outra que nunca vi, uma outra qualquer, uma outra que ele deve usar como ele me usa. Mas como eu, ela deve ser mais uma que fica irritada com a outra, então é melhor eu não dizer nada e fingir que não o vi com a outra. E ele como deve ter me visto, fez questão de sentar em outra mesa. Não foi tão cara de pau de sentar com os nossos amigos, mas foi tão insensível em sentar na mesa ao lado.

Enquanto me aproximo a mesa, meus pensamentos não param de reclamar "amanhã você trabalha cedo", “vai ficar até o final da noite assistindo seu amado com outra?”, “além de assistir de camarote, quer ter motivos de chorar pela madrugada?”. Tudo isso não saia da minha cabeça e depois de chegar, abraçar, de fazer aquela festa de cumprimentos (sim, sou escandalosa) , vejo que meu copo já está cheio com a loira estupidamente gelada e sem pensar, já o deixo pela metade com um único gole. O poço é fundo e o tempo é curto. Estou com raiva, quero ir naquela mesa e jogar tudo para o alto. Quero pegar o meu copo e jogar a cerveja toda na cara aquela outra e dizer que eu sou a única que faz borboletinhas com ele no sofá. É me deu vontade, mas lembrei que a vontade de beber é maior que o meu ódio e ainda me tranquiliza.

A hora voa e quando olho no relógio, já são duas da manhã. Não há motivos para pensar no dia seguinte, não haverá dia seguinte e sim o mesmo dia. Pra quê dormir, se as sete tenho que estar de pé? Sono é para os fracos e depois de vários copos de cerveja, duas tequilas e uma caipirinha, eu sou a mulher maravilha lindamente milionária. Não existem contas a pagar e muito menos limite no cartão de crédito. Hoje estou com a fúria da mulher, que não tem nada com o cara, mas vê o cara com a outra de sorrisos e abraços. Se fosse ao contrário, eu seria vista como uma galinha, mas como ele é homem tudo é bonito. Sociedade de merda.

- E aí gatinha, posso te conhecer?

- Não, eu sou muito antipática para alguém ter a vontade de me conhecer. – respondi bêbada para algum idiota que queria a minha presença. Ou talvez uns beijos. Ou talvez uma noite de amor. Mas hoje, eu estou mais para um filme de terror.

- Que isso, você é demais...

- Demais é o bafo de cachaça que sai da sua boca, de bêbada já basta eu! – Saí sem olhar pra trás, sou grata a lei Maria da Penha que me protege.

O bar fecha e a vontade de beber não para. O psicológico já se encontra culpado, mas a alegria é imensa, não quero perder um minuto da madrugada. E a bebida não para. Com isso, encontro amigos que não vejo há muito tempo, as gargalhadas são mais espalhafatosas e todo mundo vira rico. Fomos a um posto de gasolina próximo ao bar, mesmo embriagada, enxerguei Daniel de longe, conversando com um dos nossos amigos e eu já louca, sentindo-me a mulher gato. Entrei na loja de conveniência, passei por ele e fingi não ver novamente. Ele estava sozinho e Pâmela não parava de falar no meu ouvido. Mas eu quero beber até morrer e não quero pensar em Daniel e nem nos minutos que ainda me restarão para dormir. Se ainda existir minuto disponível para o sono enlouquecedor de uma bêbada.

- E aí metida... Não fala mais com os pobres não? – Daniel puxou o meu braço, quando estava saindo da loja de conveniência.

- Eu não falo com homem idiota... – Respondi com o meu olhar vesgo alcoolizada e joguei os meus cabelos Maria Bethânia no rosto dele. Tem horas, que além do corpo, o cabelo também se arma por conta do álcool.

- Nossa, mas porque a revolta? Vamos dar uma saída... Estou com saudade...

Fingi não escutar a gracinha e sentei-me na mesa com os meus amigos. Alguns já foram embora e Pâmela me acompanha em todos os goles como sempre. Sem ter nenhuma noção, Daniel resolve sentar do meu lado tentando levar para cama uma Cátia bêbada, como ele já fez diversas vezes, mas desta vez eu o vi com outra. Não tem como, eu já bebi por todo o ano e não posso me deixar levar pelo desejo. Não desta vez.

Pedi para a Pâmela pedir um táxi pelo aplicativo do celular e enquanto esperávamos, um mosquito erótico não cansava de falar no meu ouvido. Isso é, se mosquito falasse...

- Pára de bobeira, você sabe que eu te amo... 

- Oiii??? Daniel, pelo amor de Deus! Seja criativo e moderno, use um novo método de levar alguma mulher para o Motel, este é velho! – Respondi segurando a latinha de cerveja e me dirigindo até o táxi.

- Não vai me deixar ir com você?

- Não! Vai pro inferno! Vai pro Motel com aquela outra... Me deixa em paz! – Bati a porta do carro com raiva, o taxista me olhou com uma cara feia, pedi desculpas e disse o endereço, logo depois de ouvir “TÁ COM CIUMES” de Daniel e alguns amigos que ficaram no posto bebendo.

Às cinco da manhã chego em casa, totalmente embriagada, tiro os sapatos e tomo um banho de gato. Durmo com a maquiagem e acordo trinta minutos atrasada com os berros da minha mãe. Levanto no susto, corro para o banheiro e o carnaval se antecipa com a bateria da escola de samba "Unidos da Ressaca" na minha cabeça. Dez quilos de maquiagem na cara, olhos escuros para me esconder e balas de menta na bolsa e na boca, o cheiro da cachaça e do cigarro impregnaram em mim. Coloco um óculos escuros para disfarçar os olhos de panda e assim que eu chego no trabalho, tenho uma visão assustadora.

- Atrasada não é dona Cátia da Cachaça? – minha gerente já me olha e diz com aquele tom de “hoje você está ferrada!”

Sigo imediatamente para a minha sala tentando disfarçar a embriagues. Coloco uma garrafa de água na mesa, bebo como se estivesse caminhando no deserto e a cada toque do telefone, os meus neurônios se irritavam e o meu corpo se arrepiava. Paciência zero para aturar qualquer ofensa de cliente. Parece que quando isso acontece, a minha gerente fica no meu pé. Sim, aturá-la na ressaca é um teste de sobrevivência.

- Cátia, cadê o relatório? Cátia, já entrou em contato com o cliente de Copacabana? Cátia, cadê a planilha no excel...

- Aaaaaaah que saco! – Pensei alto, mas a minha sorte é que ela já estava fora da minha sala.

Arrependo-me quando me olho no espelho na hora do almoço, choro quando vejo a minha carteira vazia e sinto vergonha de pedir dinheiro emprestado para a minha mãe, afinal, ninguém mandou eu beber além do meu limite corporal e financeiro. Com essas coisas, paro e penso: Por que eu não consigo beber como uma pessoa normal? Já não havia visto os amigos e bebido até umas duas da manhã? Por que mais? A pessoa não se contenta com pouco e sempre quer ir mais além? Coisas da vida, coisas de bêbada depressiva... Às vezes, é minha vida.

Joyce Xavier - Trecho do livro "A outra voz"




18 setembro 2016

A mulher bem resolvida - Diego Augusto





Sabe aquela expressão: "Você é louco?!" proferida para os seres humanos que costumam falar sozinho, pois bem, ser escritor é exatamente isto. Soltamos o verbo num pedaço de papel e damos voz a uma caneta, lápis e/ou teclado com o intuito de divulgar o que vem a telha, sem preocupar com algum tipo de censura. Ser escritor, em suma, é um desabafo com si próprio, um meio de pensar toda e qualquer situação cotidiana e em seguida escolher se tal bate papo solitário deve ou não ser compartilhado.

Hoje resolvi homenagear o ser humano mais fantástico – as mulheres bem resolvidas. Não se trata daquelas homenagens que leva ao desperdício de água ou que encarecem a conta de luz (se é que me entendem), mas sim a divulgação da incrível personalidade desta tal mulher bem resolvida, capaz de conquistar todo e qualquer homem pelo simples encantamento que extrapola a estética perfeita.

Mulher bem resolvida é aquela que você sempre está na dúvida quanto ao sentimento dela, a mulher que quando está com você, sabe conversar de todos os temas (de futebol a política), frequenta todos os ambientes e acha o máximo sair daquele boteco sábado à tarde direto praquela boate – seja de rasteirinha, tênis ou os cambal. Sente falta da sua presença, mas entende que sua ausência é fundamental para você tomar uma cerveja com aquele amigo (ao invés de denomina-lo como galinha, mau caráter ou dilacerador de relação), e sabe por quê? Ela também adora encontrar com as amigas e compartilhar assuntos do gênero feminino. Bem provável que nosso desempenho e os cacetes (literalmente) estejam em pauta.

A mulher bem resolvida não te liga e nem manda mensagem a todo instante, ela é extremamente segura e te faz pensar: "porra, será que esta mulher não está me curtindo?!" Geralmente ela é independente, não precisa de cifras masculina, confia, mas não perdoa mentiras nem homens que vangloriam músculos nas redes sociais enquanto broxam "pela primeira vez" a cada nova parceira.

Ela faz sexo no primeiro encontro e não está nem ai para o olhar machista, aliás, ela não faz sexo, ela te surpreende com uma performance de atriz pornô tendo sido uma Sandy (na época em que ela era tida como virgem) ao longo da noite. Essa mulher, bebe cerveja, vai a rodizio, come pizza com a mão, não é desbocada, mas sabe quando empregar um palavrão e não ser vulgar. Ela sabe te mandar a merda e arrancar o seu sorriso, porque nesta vida sempre existe espaço para um "Eu te amo" dito de forma diferente e exótico. Ela não é igual e não segue clichê, por isso, quando essa mulher gosta...ela gosta.

Sua forma física não segue a linha Gracyanne Barbosa, mas suas curvas são sinuosas, portanto, um verdadeiro perigo. Faz exercício físico para descarregar a culpa de tomar várias saideiras imediatamente depois de ter a conta fechada.

Traduzindo, a mulher bem resolvida é amiga, é amante, é companheira... acho que se tiver religião ou culto, deve ser macumbeira. O perfume dela é um trabalho espiritual que fica impregnado na sua roupa e um ópio milimetricamente instalado na sua mente.

A mulher bem resolvida é toda mulher disposta a ser autêntica e espontânea, que deseja ser feliz sem sacrificar ou escravizar o outro. Todas detêm a fórmula, mas apenas aquelas que usam e abusam do mensurado perfil conseguem atingir em cheio o peito de qualquer "homem bem resolvido"... 

Diego Augusto

16 setembro 2016

Não sei ser metade - Andressa Leal


Não sei amar pela metade e nunca tive a pretensão de que isso acontecesse, sempre lhe avisei que eu também sabia fazer falta e que uma hora eu iria partir e talvez você não fosse notar, que quando você olhasse para o lado da cama, aquele mesmo lado que eu costumava ficar deitada ou por varias noites sentada, apenas te observando dormir, esse lado estaria vazio.

Nunca soube ser pela metade em nada. No amor, vida e muito menos no relacionamento, você fez falta em diversos momentos da minha vida, aqueles que eu queria você por perto, tive que me acostumar com a sua ausência, e quando você se ausentava era por completo, não aparecia, mandava mensagem e nem atendia as ligações.

Sabe o que acontece, eu não sei amar pela metade e nunca fui assim. Você dizia que eu te completava e eu insistia a dizer que eu já era completa, que queria que você me transbordasse, porém você nunca transbordou, nem fez chegar até a boca.

Juro para você que se tivesse faltado só mais uma gota para transbordar, eu teria ficado, permanecido ali e lutado pela gente - porém isso não aconteceu, você não transbordou.

Não sei amar pela metade, se conforme com isso. Quando eu parti, não me atrevi a deixar nenhum pedaço meu com você, você insistiu em falar que eu não poderia ir, porque eu te completava e mais uma vez insisti em lhe explicar, que não precisava de ninguém para me completar, queria quem me transbordasse.

E naquele momento você transbordou, suas lagrimas e sua raiva em cima de mim, transbordou e colocou todo seu sentimento para fora, aqueles que eu esperava a tempo conhecer, mas sinto em lhe informar querido, você transbordou tarde demais.

Sabe o que acontece, nunca soube amar pela metade, não faz parte de mim ser assim. Tive que partir e te deixar transbordando sozinho, relaxa uma hora você vai parar de pingar, eu poderia ter ficado lá transbordando com você, porém não podia. Não sei amar pela metade e estar com você naquele momento, seria aceitar a sua metade.

Hoje eu me despeço de você inteira e te deixo inteiro, não ouso levar nada, muito menos seu coração, fica em paz e se por acaso no meio do seu caminho, você encontrar alguém que queria transbordar, permita-se, transbordar faz bem, não se contente com conta gotas.

Não sei amar pela metade e nunca tive a pretensão de que isso acontecesse, sou um inteiro muito grande e por isso não me satisfaço com metades!

Andressa Leal

15 setembro 2016

A última carta



Maurício, hoje aceito o seu não. Com tantas cores, reconheci o meu horizonte e percebi que ao seu lado, nas trevas, não era o meu lugar. Prometo que esta é a última carta e quero que leia como uma despedida. já faz tempo que você partiu e a sua procura sempre foram para aumentar o seu ego e destruir os meus caminhos.

Quem é da escuridão não aceita a luz e se incomoda com os brilhos positivos. Quem é mal não aceita a bondade e mesmo protagonizando o falso bom da novela, a máscara cai, demora mas cai. E a sua máscara caiu, não só para mim, mas para você mesmo. Olha Maurício, eu não tenho raiva de você, nunca tive e não terei. Tenho andado com uma fé radiante e percebo que sua vida continua na mesma. 

Você ambiciosamente não sente vergonha de traficar ilusões e diz ser homem, quando é visto como criança nos olhares das pessoas. Eu só quero te dizer que estou muito bem e quero que você fique bem também, mas não queira me procurar caso precise de alguém para te ajudar, procure Deus. Pode parecer clichê, mas me cansei da novela mexicana que eu mesma produzi em minha vida. Não quero humilhar ninguém como vingança, não serei mais feliz ao te ver no chão. 

Afastei-me de pessoas, mudei o número do telefone e fiz de tudo para que você saísse da minha vida, porém, eu errei. Você continuava dentro de mim, era vivo em todos os sentidos, meus sonhos eram pesadelos e eu sentia falta do seu amor, sentimento que eu só resgatei quando resolvi me amar. Enquanto isso, eu estava nos seus pensamentos e desejos, nunca existiu amor e eu fui o alvo para sua liberdade. 

Perdi as contas de quantas vezes eu esperei o seu velho fusca verde passar pela minha rua, não queria te tocar, eu só queria matar a saudade do seu olhar e hoje percebo que perdi tempo com alguém que não soube me amar. As lágrimas foram em vão, os aplausos pela minha infelicidade se transformaram nas dores mais monstruosas que um ser humano deve sentir, por estes motivos aceitei o seu não. 

Não devo carregar mais um peso na minha vida, não devo me envolver em problemas de pessoas que não me quiseram, não devo absorver e acreditar nos seus falsos sentimentos que não cansa de dizer à terceiros. Não, eu não devo. 

Resolvi escrever a última carta, para fechar o ciclo cruel que você mesmo criou comigo. Eu sobrevivi ao inferno que você me jogou, eu venci a guerra que você causou e me sinto satisfeita ao ver que por você, eu não sinto mais amor.

Joyce Xavier