14 setembro 2016

Quem é Feliz não faz Arte - Por Lucinei Campos



Para a primeira publicação neste blog tão bem frequentado, decidi falar de algo tão lindinho quanto à carta de Gregório Duvivier à ex-esposa: felicidade! A frase-título é do livro No Sufoco, de Chuck Palahniuk, autor também de Clube da Luta.

Pois bem, o que você responderia ser “felicidade” se lhe perguntassem assim, de supetão? Para os apaixonados, suponho que significa estar nos braços da pessoa amada. Para os não apaixonados, imagino ser o dinheiro, o status, a saúde, mais dinheiro e, quem sabe, alguns atributos físicos também. Realmente, essa é uma das perguntas mais difíceis de serem respondidas. É bem complexo definir o que é felicidade e saber como e onde encontrá-la. Ainda sim, nós, meros mortais, sempre corremos atrás dela. Seja ela na forma de uma pessoa, de um objeto ou apenas um tempo, o fato é que sempre a buscamos, incansavelmente. Só que muitos quando pensam tê-la encontrado tendem a se despreocupar com a busca e repousar.

Com o passar do tempo, as coisas mudam. Fato. A tal felicidade que, em algum momento de nossas vidas, pensamos ter capturado, não é mais nada daquilo que imaginamos. No fim, percebemos que aquela pessoa que desejávamos ter por perto, em uma manhã qualquer, depois de várias “manhãs”, não é a nossa fonte de felicidade. Ela não é aquela criatura perfeita que não arrota, que não tem mau humor, que não tem bafo e nem solta gases. No fundo, provavelmente, pode ser bem parecida conosco em todas as nossas imperfeições. E aí? Bem... Aí, começamos a acentuar os defeitos dela. Começamos a fazer comparações: “Ah, mas você não era assim” ou “O fulano não é assim”. E, quando nos damos conta, percebemos que aquele príncipe ou princesa, na verdade, sempre foi e sempre será um sapinho, assim como nós.

Estamos inclinados a buscar o melhor nos outros, ainda que sejamos o oposto. É aquela coisa de querer o belo, o perfeito, enquanto sequer nos encaixamos no padrão que nós mesmos estabelecemos para os demais. Mas a felicidade, meu caro leitor, não mora no outro, não vem de outra pessoa. O amor até pode ser aquela chama que nasce em alguém, quando este consegue tocar o outro. Mas, por favor, não confunda com a felicidade! Até mesmo a paixão é temporária. Enquanto o amor pode ser moldado, a felicidade... Ah, a felicidade é um estado nada permanente! Diferente do que imaginamos a felicidade não é um porto seguro, um quarto, um alguém. A felicidade é aquela esperança de encontrar a pessoa que tanto desejamos por perto. É acreditar que vamos comprar aquela bela roupa cara, vista numa vitrine de luxo, ou aquele carro do ano, que o nosso salário ainda não dá conta de pagar, ou ainda que vamos conquistar aquele emprego que buscamos a vida inteira e fizemos muitos planos, antes dele existir. A felicidade são aqueles segundos antes do sim, de saber que o dia sorriu pra nós em todos os aspectos. É a busca, não o que se busca. É a corrida, não a chegada. Quando se consegue, a graça meio que se perde.

Então, percebeu? A felicidade habita em você! Ser feliz vem da sua percepção do mundo e das coisas e não de esperar por pessoas idealizadas e nem por milagres. A felicidade é você! E você pode ser feliz de várias maneiras possíveis, ou melhor, buscar de várias maneiras. Curta a busca, ela é um processo e, portanto, é mais gostosa durante, não quando acaba. Como diz o título desta postagem quem é feliz não faz arte! Enquanto estiver em sua busca pessoal, moldará o mundo conforme os seus olhos.

Lucinei Campos

Um comentário:

  1. Olá, Joyce e Lucinei.

    Primeiramente (fora Temer!) gostaria de dar as boas-vindas ao novo colunista. Confesso que estou bastante surpresa, porque eu não imaginava que o Lucinei um dia seria colunista de algum blog. Lembro de seu tempo de blogueiro, mas agora como seu foco tem sido os livros, esta é realmente uma grata surpresa.

    Que belo texto! Lindo e poético. Me pôs reflexiva e me fez lembrar que realmente, só produzo bem textos autorais quando estou pra baixo, quando estou na fossa mesmo. Ou seja, o Chuck Palahniuk tem toda razão! Aliás, autor que cada vez mais tenho me interessado por influência do Lucinei. Tenho aqui em casa e no Kindle "O clube da luta", agora só me falta disponibilidade para lê-lo, mas vontade é o que não falta.

    Felicidade, um assunto tão subjetivo, mas acho que você foi coerente nos seus argumentos e concordo com você. Seu texto provoca uma empatia e identificação de imediato porque seus exemplos são muito bem dados, são situações que acontecem cotidianamente.

    Gostei muito dessa frase: "Curta a busca, ela é um processo e, portanto, é mais gostosa durante, não quando acaba". Acho que resume bem como estou atualmente, ainda que eu não esteja "buscando" ninguém.

    Obrigada pelo texto. Aguardo os próximos <3

    Abraços,
    Maria Ferreira, blog Minhas Impressões

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