05 dezembro 2016

Ela é solitária e não vale nada



Ela diz ser um ser humano sem defeitos e a dona da razão. Não tem piedade de falar sobre pessoas fofoqueiras, mas continua ao lado da sujeira. Tornamo-nos a fruta mais podre das demais quando não evitamos os desleais. Fala a verdade, mas não gosta de ouvir. Debocha da felicidade do distraído e esconde o passado percorrido. 

Faz-se de coitada e procura os outros para fazer piada. Vive um romance dissimulado para esquecer o apodrecido que a fez sofrer. Cala-se ao seu lado, mas ao virar as costas estampa seu nome em sangue no auditório. Seu escritório é cercado de vidas que ela gostaria de ter, seus clientes são pessoas que gostaria de ser. 

Julga a solidão de quem ama viver só, mas esquece de suas companhias a tornam um ser pior. Pior do que eles, pior para si mesma. Gargalhou ao saber que seu vizinho é músico. Desacreditou no sonho do primo skatista maluco. Reprovou o namorado da irmã. Esnobou o salário do namorado. 

Condena os sonhos de quem lhe quer bem, mas não luta pelos seus. Prefere ser solitária ao lado de gente que, pelo que ela mesma diz, não vale nada.

Joyce Xavier 

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