24 janeiro 2017

O Diário dos 30 anos - parte dois








Rio de Janeiro, 02 de Janeiro de 2016.
Sábado

Ano novo, vida nova e Diário novo. Ginger foi guardado com as outras agendas da época do colegial. Escrevo muito e guardo tudo. Rodrigo me presenteou e como você é mimoso, um rosa bebê com flores amarelas, irei te chamar de Baby. Sim Baby Spice... E não me pergunte “mais um com Girl Power?”, pois não temerei em responder. Então Baby, podemos começar?

Ontem, primeiro dia do ano, primeiro dia de 2016 e eu acordei nua dentro do banheiro. Nua, totalmente nua como vim ao mundo. Eu fedia a cachaça e meu cabelo estava molhado por causa da minha baba. Diana dormiu com um de seus filhos aqui em casa e quando o pobrezinho acordou e foi até o banheiro, eu estava lá. Lembro-me que quando abri os olhos e tudo estava confuso, minha cabeça doía muito e eu via duas Diana olhando para mim. Sim, Diana estava lá, rindo no banheiro, fotografando tudo e registrando aquela cena deplorável na qual eu me encontrava. Levantei-me e apoiando-me com as minhas mãos ainda vomitadas sobre o vaso sanitário, arranquei com toda a fúria embriagada o celular das mãos de Diana e arremessei contra a parede. Eu precisava de ajuda e não de paparazzi disfarçada de amiga, aquela amiga que quer estampar nas primeiras páginas de todos os jornais a minha desgraça.

Sai pela porta do banheiro me sentindo sexy e desfilei nua pela minha casa, não havia mais ninguém. A festa de réveillon deve ter sido maravilhosa, pois a minha casa estava um caos. Minha cabeça explodia de ressaca e os berros de Diana estavam me deixando irritada. Vesti-me rápido e em câmera lenta, ignorei a presença dela acompanhando os meus passos. Parecia uma sombra, uma perseguição, vodu, encosto...

Abri a porta da geladeira, peguei a primeira garrafa de água e bebi no gargalo. Não havia visto nenhum copo limpo por perto, somente a pia repleta de louça e uns cacos de vidros pelo chão. Percebi que a festa havia sido tão boa, que além de ter feito um estrago no meu fígado, havia feito na casa também.

Quando caí na real, olhei para o lado e percebi que Diana não parava de gesticular. Sua boca se movimentava, seu rosto estava com uns traços estranhos... Não sei explicar, e com um de seus braços para o alto, ela o balançava e eu logo pensei “pronto, incorporou”. A minha dor de cabeça era tanta, que eu não conseguia ouvi-la e cheguei a me perguntar, que tipo de droga eu havia usado na noite anterior, mas por sorte, era tudo culpa somente da bebida. Eu não tinha culpa de nada. Ou quase nada.

“Quantos aparelhos você quer?” – gritei. Eu queria que ela parasse de berrar, eu não queria ver ninguém e estava na depressão pós porre de cachaça. Eu só queria que ela sumisse com aquela careta aterrorizante, estilo do filme “Pânico”. Lembro-me que eu morria de medo do filme e sofri junto com a Neve Campbell de tanta aflição. Sem piedade da minha destruição, ela disse batendo com a sua mão direita no peito “Eu compro a marca que eu quiser, se eu quiser eu compro o caralho todo!” Na verdade, eu até gostaria que isso fosse verdade, que ela comprasse o caralho todo, que tivesse tanto caralho na vida dela, que ela enchesse a boca de caralho e não enchesse a porra do meu saco.

Olhei desnorteada pela casa, levantei as almofadas que estavam jogadas pelo chão, me ajoelhei e olhei por debaixo dos sofás, mesa de jantar, enquanto Diana gritava “o que procura? O que procura?”.  Não disse nada, só pensei “teu cu”, mas resolvi me calar. Achei a minha bolsa, peguei o cartão de crédito e joguei em sua direção aos berros “compra esta merda e saia da minha frente... Sai daqui sua imbecil”.

 O cartão caiu no chão e enquanto ela se abaixava para pegar, eu andei em direção a porta para abri-la. Parada e com um sorriso debochado, aguardei impaciente que ela arrumasse suas coisas e ajeitasse o seu filho. Na verdade, eu queria era ficar sozinha. 

Despedi-me com um “passar bem” e voltei a dormir, só que desta vez na minha cama, que não me deixou no dia hoje. Além de ter perdido a sociedade com Diana, perdi a dignidade e meu macho novo. Devo ter feito uma merda muito grande no réveillon, Rodrigo não me ligo e não atendeu as minhas ligações. Um bom começo para um ano novo.







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