21 agosto 2017

Mulher não merece apanhar!


"Eu vou te bater, pra você aprender a ser mulher"

Muitas mulheres já ouviram essa frase. Com certeza, se você não sofreu nenhuma agressão, você conhece alguém, ou já ouviu falar na impressa. E isso é muito sério. É descontrole, é desrespeito e aceitar, é falta de respeito com si mesma. É falta de amor próprio. 

A primeira briga, foi naquele momento em que ele estava embriagado. Você respondeu em um tom de voz alto, ou disse algo que ele não gostou, foi motivo de um soco no rosto. Você não conhecia o lado monstro do homem que você ama. Você não desconfiava que ele poderia machucar, alguém que ele também diz amar. Você fica assustada, perdida, ferida fisicamente e emocionalmente, e também, no fundo do poço com medo. Medo muito.

"Desculpas, eu te amo! Eu não faço mais isso"

Você aceita, volta a conviver com um manipulador. Os primeiros dias são lindos. As primeiras semanas são de núpcias, mas logo a máscara cai e o inferno volta. Em dobro. Mais uma briga, mas dessa vez, com puxões fortes de cabelo, e sem piedade, ele lança a sua cabeça contra parede. Deixa uma dor de cabeça imensa. 

Você vai dormir do lado dele chorando. Ele te abraça e você aceita. Pra ele, isso é normal. Se você aceita, é normal. E por ter sofrido muito da primeira vez, ter voltado, e ser criticada pelos seus amigos e família, você apanha pela segunda vez calada. Guarda esse segredo, esconde os hematomas, diz pra sua mãe que a dor de cabeça é de ressaca, enxaqueca, sinusite... Inventa inúmeras desculpas para que ninguém descubra. 

Mas os vizinhos ouviram, um amigo percebe e você desabafa com uma pessoa, que já não aguenta mais a sua novela, e resolve não se meter mais. Pois como diz o ditado: briga de marido e mulher ninguém mete a colher. 

Além de ser agredida, você é traída e sabe disso. 

As bebedeiras dele não param. Quando está sóbrio, parece se arrepender por uns dias. Torna-se um homem de bem, um homem que quer construir uma família e mante-la. Mas é uma farsa, é uma nova canção manipuladora. Tudo fica tranquilo por um tempo. Mas quem agride uma vez, dificilmente deixará de agredir.

E o inferno continua.

Mais um soco no rosto, nas costas e no corpo. Ele não te deixa ir embora. Você grita desesperada, mas ele manda você calar a boca. Ele quebra o seu celular em apenas uma jogada no chão. Você grita mais uma vez desesperada e consegue fugir, ele te puxa pelos cabelos, te joga dentro de casa, e com isso, quebra alguns móveis. A força e o ódio não têm limites. Um pedaço de madeira está por perto, ele ameaça te apunhalar se você não parar de chorar alto. Ele deixa você chorar baixinho. Tem que ser baixinho. 


Você consegue dormir com medo e acordar com dor. Quando percebe, está toda roxa e machucada. Não consegue abrir a boca, pois seu rosto está inchado. Não consegue se mexer, porque tudo dói, inclusive a alma. Até a sua dignidade foi ferida. Por fim, ele ainda consegue cuidar das feridas que ele mesmo causou no seu corpo.

E você ainda vai continuar apanhando? Você quer morrer?

Sem que ele perceba, em uma de suas saídas, você pega todas as suas roupas e vai embora. Aparece quase desconfigurada na casa dos seus pais. Qual a mãe que gosta de ver a filha passar por isso? Qual o pai que aceita? Qual amigo irá apoiar esta relação?

Ninguém aceita. 

Umas semanas se passam e tudo volta novamente. Ele te procura, pede pra voltar. Você ainda está machucada e ferida por dentro. Você tenta perdoar, mas não consegue. Você tem medo de andar na rua, você tem medo das pessoas, e o único lugar que você se sente segura, é o seu quarto. Até caminhar pela casa é estranho.

Mas você volta. E é chamada de safada.

Parece que é algo que você não consegue se livrar. É como imã que te puxa para a cova, é como se você tivesse encomendando o seu caixão. É assinar a sua certidão de óbito. É ter vergonha de se olhar no espelho, é fugir da realidade e acampar temporariamente no mundo de ilusão que você mesma criou. Mas você se esquece, que as pessoas mudam, mas o caráter delas não.

Mais uma vez tudo fica tranquilo. A sua família não aprova a sua decisão e o seu relacionamento, mas preferem não se meter mais. Os seus amigos te olham como uma boba, os inimigos como otária, e assim, você vai sobrevivendo em uma vida que você não merece viver. Que você não pediu pra passar, mas escolheu. 

E quando ele puxa o seu braço, e te ameaça novamente, mais uma vez ele diz que vai te espancar. Então, você se cansa. Na realidade, você não é feliz com ele. Você já está farta das mentiras, das amantes, das farras com os amigos, do dinheiro que ele nunca tem quando você pergunta, entre outras coisas. Você não o quer mais, mas no fundo, não sabe como lidar com essa situação. Ele não te ama. Você não o ama. Você não se ama. Não existe amor de ambas as partes e em ambas as partes. 

E agora?

Então minha amiga, me dê a mão. Você não está sozinha nessa. Denuncie. Vamos vencer isso juntas. 

Joyce Xavier  


Um comentário:

  1. Eu retiraria uma frase desse texto: "É falta de amor próprio". Não porque não seja verdade, sabemos que é isso, mas o texto já deixa claro, ai ela vira quase um clichê. Todo mundo diz isso. Mas pra quem lê o texto, é muito dolorido ter essa frase mais uma vez esfregada na cara. É quase uma ofensa, um xingamento desnecessário pra quem já está na lama.

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